sexta-feira, 3 de julho de 2009

Engolindo o choro

Engolindo o choro

O Código Penal tupiniquim, que vale do Oiapoque a Genipabu, diz que se eu fizer apologia a crime, sofrerei uma “pena de detenção de três a seis meses, ou multa”. Em outras palavras, irei dar com os costados no Juizado Especial Criminal, espécie de purgatório, onde o excelentíssimo vai me obrigar a pagar uma cesta básica ou prestar serviços à comunidade. Como estamos em época de parcela do 13º, por obra e graça da generosidade de Mamãe Grande, e sendo o serviço à comunidade em finais de semana, topo praticar a conduta típica prevista no Art. 287 do livrinho.

Portanto, senhores promotores, do próximo parágrafo em diante já estarei cometendo o delito de “apologia a crime”. Os senhores não precisarão de mais nada, além destas modestíssimas linhas, para o incremento da denúncia.

Há 8 anos, chegou um prisioneiro na carceragem da Defur. E era um cuidado danado com esse preso. Procurei saber, o tal havia matado à facadas um policial civil. Comoveu-me a narrativa. Dizem que o policial foi a um mercadinho perto de casa e se esquecera da arma. No percurso, o tal cabra investiu contra o policial. Era o policial correndo ao encontro da filha que lhe trazia a arma. O assassino não parava de golpeá-lo com a faca de doze polegadas. A morte chegou a tempo. A filha, não.

Era o preso para lá e para cá, e acompanhando o tal, um monte de recomendações da cúpula da polícia civil. Eu, pessoalmente, não suportei olhar muito tempo para a sua cara. Ainda bem que não o largaram aos meus cuidados, nem aos cuidados do outro delegado. A essa altura já deve estar em liberdade, rondando outra vítima. Com o passar dos anos, outros policiais, agentes, delegados, tiveram suas casas arrombadas, seus carros roubados. Uns foram assassinados, outros sofreram atentados, mas nunca ouvi falar de uma comissão de direitos humanos procurando os filhos ou a viúva de um delegado ou de um agente para dar conforto e apoio.

Somos obrigados a engolir o choro. Um policial, seja agente, delegado ou policial militar graduado ou não, quando numa situação limite, na função ou fora dela — onde é obrigado a ter de agir para não morrer — quando o faz, é espinafrado pelos órgãos de comunicação, é caçado como um monstro pela sua própria instituição, ou é demonizado pelos organismos de direitos humanos. Foi o que aconteceu com os policias da DEFUR naquela histórica fuga, onde os presos, após arrombarem as grades, pularam na frente da alça de mira dos policiais.

O delegado Ronaldo Gomes soltava fogos com seu filho pequeno, quando três rapazes que passavam na rua anunciaram o assalto e um dos tais puxou um revólver e atirou. A bala esbagaçou o osso (o úmero) do braço de Ronaldo e ele caiu, sendo socorrido imediatamente pelos familiares. Tivesse sido o contrário, ou seja, se Ronaldo tivesse sacado sua arma para repelir os caras, responderia na Corregedoria por haver “assustado” ou “constrangido” os rapazes. E se tivesse atirado num deles, no mínimo iam dizer que a arma do cara era uma “vela” ou que a cena do crime fora manipulada pela polícia numa atitude corporativista. E tome Direitos Humanos! E tome Ouvidoria! E tome Ministério Público!

Estive no hospital no dia seguinte. Ronaldo estava sedado, sem um pingo de sangue e tive vontade de passar na Degepol para “entregar a arma e o distintivo” e me inscrever em outro concurso. O delegado, que enfrentará uma cirurgia, sofrera uma tentativa de assalto. Descartada, pois, a possibilidade de atentado. Ainda bem. Homens da estirpe dele estão sempre recebendo ameaças de morte, porque os bandidos estão sempre querendo apagar quem fica no caminho deles. A primeira vez que ouvi falar de Ronaldo foi numa conversa com o secretário da Defesa Social da Prefeitura, Sérgio Leocádio. Ele contava para os circunstantes que, quando era delegado de Parnamirim, Ronaldo prendeu uma carga roubada. E o ladrão, para se safar do flagrante, oferecera-lhe R$ 90 mil. E acabaram presos e encaminhados à Justiça o caminhão, a carga, o dinheiro e o ladrão. Deve ser por isso.

Aldo Lopes de Araújo (Adjunto da Defur)

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